terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

As cotas raciais já existentes e também as sociais que já começam hoje a ser adotadas pelas universidades públicas do país merecem, pelos motivos que são abaixo comentados, aplausos e votos de que se consolide e se aperfeiçoe, não obstante colocar à margem uma boa parte de jovens oriundos da classe média baixa que estando numa faixa de exclusão por não ter pouco e nem muito no que refere ao poder aquisitivo pois nela, raros não são os pais que à custa de muitas economias e sacrifícios de toda especie, conseguem estudar seus filhos em escolas particulares, contraindo empréstimos e renegociando dívidas, e em função do estabelecimento de tais cotas vêem os seus filhos não obterem sucesso nos vestibulares, mesmo tendo médias quase que o dobro das que permitiram o acesso às faculdades, daqueles que foram beneficiados por tal mecanismo.Assim a adoção de tal medida legal é benéfica, só estando a precisar de reajustes que façam uma verdadeira inclusão que contemple de modo justo a todos os que dela necessitem, alcançando também àqueles que não medem esforços, às vezes sobre-humanos para propiciar um ensino de qualidade aos filhos, mesmo não dispondo de recursos financeiros para tanto. Verdade seja dita que, para os que se acham em tal situação está existindo uma penalização dupla, primeiro por que no objetivo de dar uma educação de melhor qualidade aos filhos, tem que se fazer malabarismos e milagres com suas rendas, e nem muitas vezes atinge o que pretende, pois os bem abastados financeiramente gastam ainda mais, fazendo com isso um inchaço nas escolas de nível superior estatal, de ricaços que muito bem poderiam pagar pela continuidade dos seus estudos em faculdades particulares; por outro lado os filhos daqueles, não estando incluídos nas cotas sociais e embora superem as notas dos que nelas estão, ficam de fora, pois estão em uma zona intermediária.
O acerto das cotas se patenteia a olhos vistos quando circulamos por estabelecimentos comerciais, bancários e de serviço público em qualquer parte do nosso Estado, onde raramente vemos pessoas negras ou de origem mais humildes ali atuarem em alguma função, e mais do que difícil, senão impossível, estarem em alguma posição de mando, isso se dando por razões que remontam aos primórdios da colonização brasileira e que num crescente, cada vez mais diminuíram as chances dos que hoje se acham protegidos por esse sistema adotado, pois atualmente e de forma cada vez mais, a exigência de uma boa formação escolar/educacional é pré-requisito para qualquer atividade.
Num pais onde a tradição de se acomodar e de se proteger no serviço público remonta aos primeiros ocupantes, pois se Pero Vaz de Caminha em sua carta que comunica ao El-rei o descobrimento, ao mesmo tempo que já pede emprego para um parente, vimos nos idos anos entre setenta e oitenta, um movimento maior dessa procura até então quase desconhecido em nosso cotidiano. Com as dificuldades financeiras assolando a maior parte dos lares brasileiros, principalmente motivadas pela brusca elevação do preço do petróleo que tantos sobressaltos provocou na economia mundial, vimos uma verdadeira corrida na busca de empregos ,sobretudo no serviço público, onde um gigantesco guarda sol de benesses protege aqueles por ele acolhidos de todas as intempéries a que se sujeitam os que, por desempregados, se acham desabrigados na infindável planície pela qual trilham na busca de um emprego.
Assim, facilidades maiores tiveram os que se mantinham proximidade com os detentores do poder, num regime ditatorial onde a vontade dos governantes era sempre a palavra final, bastando que esse ou aquele líder politico referendasse o nome de alguém para ocupar um cargo no serviço público e pronto já se estava contratado, e não sendo raras as situações em que encontrando chefetes submissos e capachos do regime que lhes atestavam a freqüência sem isso ocorrer, pois sequer compareciam ao local de trabalho nem mesmo esporadicamente, e se iam lá era somente para buscar o contracheques no final de cada mês.
Essa modalidade de empregar e que deu guarida pelo interior do Estado à milhares de filhos da classe média, só aumentou o distanciamento e o fosso das desigualdades, pois empurrou muitas vezes outros tantos para o subemprego, para os biscates de baixas remunerações e sem vínculos empregatícios, uma vez que chegado então o momento de que ter um trabalho e um salário mensal e que não era mais uma necessidade apenas das classes mais baixas, isso fez com que a classe média acordasse para essa questão que até hoje permanece tão aflitiva, com ela se posicionando a uma boa distancia à frente dos demais, sobretudo por que vigorava à época, quase que de modo geral, a ocupação dos cargos públicos por apadrinhamento, sem concurso público.
Isso fez e continua fazendo com que os mais pobres e por conseguinte mais necessitados se vejam sempre á margem desse processo de empreguismo, cujos resultados persistem em postos de trabalho desse nosso Brasil, reitere-se, principalmente no serviço público, onde pessoas que já se encontram em vias de um processo de aposentadoria, em sua maior parte é composta de egressos da classe média e sobretudo de cor branca, num reflexo do grande aumento da procura e nomeação dos apadrinhados há mais de três décadas, agora prontos para vestir pijama e calçar chinelos.
A sabedoria popular que sempre prega ditados que muito bem podem ser usados a qualquer tempo por contemporâneos e atualizados para quando de sua utilização, tem um que diz “tal pai, tal filho”, por isso se as pessoas maduras na ativa, em sua grande maioria se encaixa num perfil elitista e excludente, e se não se iniciar um processo de aproveitamento e capacitação dos jovens que hoje se acham á margem da sociedade, dificilmente iremos começar uma melhoria duradoura e que atravesse gerações e se consolide nos princípios de um tratamento de igualdade, dignidade e respeito entre todos.
Sendo de grande sabedoria e de vital importância que as transformações comecem através da formação educacional/profissional de nossos cidadãos, daí o acerto da medida, sobretudo pelo grande preconceito mesmo que camuflado que ainda existe em nosso país, é fundamental que se adote providencias como essas, a fim de que não mais existam subclasses ou tentativas de inferiorizar, diminuir ou rebaixar qualquer ser humano que merece atenção e respeito em igualdade de condições entre todos, sem distinção de cor ou condição social.
José Domingos

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